?Envolvimento e Alienação?: uma breve análise a respeito da perspectiva Elisiana
Sociologia

?Envolvimento e Alienação?: uma breve análise a respeito da perspectiva Elisiana


por: Carla Maria Lobato Alves*


Norbert Elias, sociólogo alemão, em ?Envolvimento e Alienação? (1998) tece considerações epistemológicas sobre os usos destes dois conceitos que intitulam a obra nas ciências humanas e, principalmente, nas ciências sociais.

O ponto de partida de sua abordagem refere-se à natureza do conhecimento sociológico e das ciências humanas. Sua análise inicia mencionando que perigos e ameaças sempre rodearam o pensamento científico, sejam essas de natureza não-humana ou humana.

Diante dessas ameaças, o ?conhecimento congruente com a realidade? (ELIAS, 1998, p. 12) das ciências naturais impediu muitos desastres não-humanos, mas este mesmo tipo de conhecimento, congruente com a realidade, não se aplica aos desastres humanos que as ciências humanas e sociais teriam como alvo de investigação e atuação.

Nesse sentido, o autor dedica esforço em diferenciar a abordagem das ciências naturais e das ciências sociais. Assim, sua crítica em relação às primeiras refere-se à maneira como os fenômenos sociais são abordados, ou seja, por meio de causas estacionárias ou um princípio absoluto que lhes teriam originado. Contrário a esta perspectiva, Elias acrescenta que os fenômenos sociais são envoltos de envolvimento e, nesse sentido, começa a galgar sua análise sobre envolvimento e alienação diante da importância de perceber o que está por trás das relações entre os grupos humanos.

Os exemplos mencionados pelo autor, na parte 1 da Introdução, demonstram que as raízes da guerra ou da supremacia militar de Estados estão nos antagonismos entre os grupos humanos, nos quais o fator emocional está bastante presente. As ameaças exemplificadas por Elias revelam o quanto difícil é analisar a situação e questão com certo grau de alienação (no sentido proposto pelo autor refere-se a distanciamento, afastamento).

Elias (1998, p.22) destaca que a diferença entre o modo alienado e envolvido de proceder está demarcada pela perspectiva do tempo. Nessa perspectiva, o modo alienado tem caráter de longo prazo e o modo envolvido caráter de curto prazo.

O autor destaca que os trabalhos das ciências naturais são marcados pela alienação e os trabalhos sociológicos são marcados pelo envolvimento devido à participação dos sociólogos na vida social, seja em fenômenos políticos ou econômicos, pois estudam e estão expostos aos perigos e ameaças do contexto que vivem.

Nesse sentido, um nível de alienação somente é possível com a substituição do uso da teoria filosófica do conhecimento pela teoria sociológica do conhecimento.

Na teoria filosófica do conhecimento o conhecimento é universal, independente da época, é congruente com a realidade, obscurece os fatos. Esta teoria filosófica do conhecimento é destacada por Elias como inadequada para as ciências humanas e sociais porque não considera que o conhecimento pode ser transmitido de uma geração a outra, podendo o conhecimento crescer ou declinar e ?são representativos de maior envolvimento? (1998, p. 28).

Outra crítica feita por Elias faz menção ao método das ciências físicas, como premissa básica de método científico. A crítica do autor continua ao abordar a transposição indiscriminada deste método, categorias e conceitos para quaisquer outros domínios da ciência com a certeza de que servirá para a análise, independente das especificidades de qual ciência esteja fazendo seu uso. Percebemos, ainda, que o padrão de alienação das ciências físicas é questionado quando o mesmo é transposto às ciências sociais na busca de ?objetividade?, o que estaria ?mascarando abordagem altamente envolvida? (ELIAS, 1998, p. 130). O método das ciências físicas também não se aplica às ciências sociais porque esta não se preocupa em estabelecer verdades ou mentiras, bem como leis gerais que emoldurariam em um ?molde teórico geral para conexões específicas de uma unidade maior? (ELIAS, 1998, p.136).

Um ponto bastante forte na obra é discussão sobre o envolvimento nas ciências sociais, pois acrescenta que para os sociólogos é ?muito difícil afastar-se abruptamente de seu envolvimento nos incidentes atuais. O envolvimento, portanto, também se refere ao foco de interesse e à afetividade do conhecimento? (ELIAS, 1998, p. 32).

Conforme fora mencionado anteriormente, o sociólogo faz parte de seu objeto de estudo, a sociedade, e principalmente das associações em grupos. Deste modo, Elias relata que ?as pessoas não podem, sob essas condições, recuar e olhar calmamente o curso dos acontecimentos enquanto observadores mais alienados? (1998, p. 118). É difícil manter o controle sobre os sentimentos e pensamentos de acontecimentos que possam afetar suas vidas. Várias tentativas de ?alienar-se? já foram empreendidas por sociólogos, principalmente nos séculos XIX e XX, mas estas abordagens apresentavam-se ora envolvidas, ora alienadas. Isto devido ao desafio que os cercam: ?não podem deixar de participar dos assuntos políticos e sociais de seus grupos e de seu tempo, tampouco, de ser por eles afetados? (ELIAS, 1998, p.126).

Não há uma regra que faça com que os trabalhos dos sociólogos tenham caráter de maior alienação e menor envolvimento, seja adotando ?modelos de estabelecer e de resolver os problemas sobre os fenômenos sociais correntes na sociedade em geral e modelos de tratar os problemas da ?natureza?, desenvolvidos pelos cientistas naturais? (ELIAS, 1998, p. 149). O que pode acontecer é uma variação de alienação e envolvimento em cada um dos modelos, sem deixar de mencionar que a cópia de modelos feita pelas ciências sociais muitas vezes não examina a aplicabilidade em suas tarefas.

Assim, percebemos que Norbert Elias levanta questões que os cientistas sociais enfrentam para legitimar suas teorias, conceitos, bem como seus métodos científicos principalmente quando se tem como parâmetro o método das ciências físicas, mais antigo e estabelecido, ?tendo? que caminhar para uma maior alienação.


Referência Bibliográfica:

ELIAS, Norbert. Envolvimento e Alienação. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1998. (Introdução e Parte I).

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*Possui graduação em Ciências Sociais e é mestranda do programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão. Tem experiência na área de Sociologia.






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