Sociologia
Culto à erotização estimula sexualidade precoce e pedofilia
Atenção Turmas do 2º ano!Leitura complementar:
Ao mesmo tempo em que acelera fases do desenvolvimento infantil, o forte apelo sensual na publicidade, novelas, músicas e outros produtos culturais torna, ainda que de forma camuflada, o abuso de crianças uma prática social aceitável.
A mesma sociedade que condena, com toda razão, os terríveis crimes envolvendo a pedofilia ? abusos sexuais contra crianças ? também promove de forma mecânica e maciça uma cultura que valoriza a erotização precoce dos pequenos e faz disso uma fórmula imbatível para vender produtos, criar moda, influenciar pessoas e, principalmente, acumular muito dinheiro. Seja nos anúncios publicitários, nas novelas, programas de auditório, publicações ou em músicas, a sexualidade exacerbada está presente no dia-a-dia de todos no Brasil e é considerada como algo para se ter orgulho. Bombardeadas por estas informações, muitas crianças têm o seu desenvolvimento afetado, atropelam fases importantes da vida e acabam transformadas em miniadultos.
Para a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Jane Felipe, especialista em educação infantil, a sociedade vive hoje um momento de ?pedofilização?, ou seja, a pedofilia como prática social contemporânea e, de uma forma camuflada, aceitável.
?A mesma sociedade que promove leis justas de proteção às crianças e adolescentes também ajuda a projetar pela mídia um desejo cada vez maior pelo corpo, na maioria dos casos, feminino. A mulher, para conquistar espaço, precisa ser desejável?, afirma Jane. ?Na cultura brasileira, existe um imenso culto à erotização. O que acontece é uma busca pela combinação entre a ingenuidade quase infantil e o desejo extremo. Isso captura homens, mulheres e também tem afetado a subjetividade das crianças, que tem se mostrado muito preocupadas com a estética. Conheço meninas de 4 e 5 anos que só querem comer alface ou rejeitam certos modelos de roupas.
Tudo para não parecerem gordas ou distantes das imagens propagadas pela TV e copiadas pelas amiguinhas?, completa a especialista.
A médica sexóloga
Nilva Ferreira Pereira concorda que existe uma incoerência no comportamento da sociedade, mas faz algumas ressalvas em relação à questão sexual.
?Não existe sexualidade precoce, ela nasce junto com o indivíduo. No caso das crianças, o sexo não é focalizado no genital, não há objeto do desejo definido. O que existe é a descoberta corporal, a exploração saudável e normal?, explica. ?O problema é que a erotização adulta está chegando cada vez mais cedo. As crianças não estão se desenvolvendo em suas etapas normais. Está havendo um atropelo. Deveríamos tratar crianças como crianças, para que elas consigam amadurecer no tempo delas?, acrescenta Nilva.
Tanto para a professora quanto para a médica sexóloga, o passo mais importante para mudar o processo de erotização da infância seria transformar a escola em um local de debate sobre este tema. Os educadores poderiam cumprir o seu papel de questionar o atual funcionamento da sociedade e, com a ajuda e a opinião dos próprios jovens, encontrar caminhos mais adequados para que todos tenham consciência da realidade que estão vivendo.
?As crianças também precisam ter a noção de domínio do próprio corpo e saber que ninguém pode mexer com elas sem que queiram. Sem fazer terrorismo, os pais e a escola poderiam dar estas orientações, além de alertar sobre a importância de que, caso algo de errado aconteça, a criança tem um adulto de confiança para contar o que houve e não fique apenas presa ao medo ou à confusão?, indica Nilva. ?Com uma sociedade onde o apelo visual reina e as crianças se transformam em consumidores vorazes, podemos esperar que as próximas gerações carreguem um vazio existencial e uma frustração muito grandes. Além do vazio do bolso, é claro?, comenta a sexóloga, sem deixar a ironia de lado.
Além de pais e professores, os próprios veículos comunicadores precisam iniciar um processo de conscientização. De acordo com
Dulce Adorno, doutora em Ciências Sociais Aplicadas com a tese Interferência da TV no Comportamento dos Adolescentes, a mídia desenvolve precocemente a sexualidade infantil e, ao mesmo tempo, não forma os adultos para lidar com isso. ?Existe uma falha na educação. A TV é uma referência na vida das pessoas e é preciso um maior controle sobre o que é veiculado. Nada de censura, mas que as pessoas responsáveis por este setor tenham a preocupação de oferecer um produto mais sério e comprometido com o desenvolvimento dos jovens?, analisa.
O professor de Comunicação Publicitária e Marketing da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas),
Claudine Luiz Pessoto, admite que as propagandas e programas de televisão forçam uma antecipação no amadurecimento das crianças. Meninas de 5 anos vestidas como se tivessem 20 ou meninos recém-saídos das fraldas querendo mostrar virilidade são fáceis de serem encontrados hoje em dia. Até mesmo alguns pais enaltecem este comportamento, orgulhosos da ?esperteza? dos filhotes.
?Se uma menina não tem um adereço ou uma roupa da moda, ela não se sente integrada ao grupo. O bombardeio de informações desperta o interesse precoce. As escolas deveriam encarar esses problemas e discuti-los até mesmo em sala de aula?, reforça Pessoto.
O importante desafio de esclarecer e orientar quem ainda está começando a viver também é lembrado pela professora
Cláudia Ribeiro, da Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais, que tem mestrado e doutorado em Sexualidade Infantil pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). ?A criança é um ser erótico, mas diferente do adulto. O que a mídia tem feito é estimular o prazer passando por cima das fases de desenvolvimento dos jovens. Cabe aos professores a consciência de trabalhar com estes temas, respeitando o jeito que cada criança tem de enxergar o mundo?, diz.
Sinais de alertaIndícios que podem ser observados nas crianças e adolescentes vítimas de abuso ou exploração sexual:
Comportamento arredio em casa e na escola;
Irritabilidade e choro com freqüência;
Momentos de silêncio total;
Dificuldade de se relacionar com outras pessoas;
Medo de sair de casa;
Receio de ficar sozinha com determinada pessoa dentro de casa, seja ele pai, tio ou qualquer outro conhecido.
Fonte: Fábio Gallacci ? Correio Popular ? SP
no endereço:
http://diganaoaerotizacaoinfantil.wordpress.comOs grifos são meus.
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