Ensaios: Reestruturação produtiva e Novas Relações de Trabalho
Sociologia

Ensaios: Reestruturação produtiva e Novas Relações de Trabalho


Ensaios: Reestruturação produtiva e Novas Relações de Trabalho
Paula Fernanda Menezes de Menezes ? Assistente Social

Estamos chegando a meados do século XXI com profundas transformações na historia da humanidade. As crescentes mudanças no cenário sociopolítico e econômico da sociedade contemporânea brasileira, produto das transformações ocorridas no processo de trabalho, explicitadas pela flexibilização, precarização, fragmentação e terceirização, essas novas formas de organização da produção, trouxe aos trabalhadores dos diversos setores, condições material e psicologicamente precárias, bem como o desenvolvimento de várias atividades e a ampliação da jornada de trabalho.
Nessa nova referência de trabalho reorganizada com a reestruturação produtiva cujo esforço de renovação, revoluciona a relação capital - trabalho a cada nova crise e conjuntura. A reestruturação produtiva é compreendida como sendo um fenômeno ligado à globalização, onde as empresas para obterem maior competitividade a nível global se reestruturam, caracterizando-se por dois elementos: Inovação tecnológica[1] e Inovação organizacional[2]. A reestruturação produtiva veio com a chamada "Terceira Revolução Industrial" que tem como paradigma o modelo Toyotista, desenvolvido no Japão na empresa Toyota de 1950 a 1970. Ela se apresentou como oposição ao modelo Fordista-Taylorista de produção e começou a se desenvolver no Ocidente a partir da década de 1970.

Foi a partir dessas transformações ocorridas no mundo do trabalho norteadas pela reestruturação  produtiva, que se reproduziu novas formas de alienação da classe trabalhadora, seja ela de natureza física, psicológica ou social, como composta por um conjunto de reações fisiológicas que, se exageradas em intensidade ou duração, podem levar a um desequilíbrio no organismo psico-físico-social do trabalhador.
Segundo Alves e Antunes (2004), o mundo do trabalho atualmente tem recusado os trabalhadores herdeiros da ?cultura fordista?, fortemente especializada, que são substituídos pelo trabalhador ?polivalente e multifuncional? da era toyotista. Sendo assim o que muda é a forma de implicação do elemento subjetivo na produção do capital, que, sob o taylorismo /fordismo, ainda era meramente formal e com o toyotismo tende a ser real, com o capital buscando capturar a subjetividade operaria de modo integral.
Ainda com de acordo com Alves e Antunes (2004), todos esses processos e mudanças no mundo do trabalho culminou, naquilo que denominam de, ?alienação/estranhamento? que é ainda mais intensa nos estratos precarizados da força humana de trabalho, que vivenciam as condições mais desprovidas de direitos e em condições de instabilidade cotidiana, dada pelo trabalho part-time, temporário, e precarizado. Sob a condição da precarização, o estranhamento assume a forma ainda mais intensificada e mesmo brutalizada, pautada pela perda (quase) completa da dimensão de humanidade. Ainda concordando com Alves e Antunes são nos estratos mais penalizado pela precarização/exclusão do trabalho, que o estranhamento e o fetichismo capitalista são diretamente mais desumanizadores e bárbaros em suas formas de vigência e se manifestam hoje, intensamente, em tantas partes do mundo e, particularmente, na América Latina.
 
Diante desse cenário somos convidados a refletir sobre o movimento que esses trabalhadores veêm fazendo em torno dessas mudanças, como essa lógica dos Programas de qualidade total (PQT) vem alterando o papel do trabalhador. Existe uma mudança de tratamento do trabalhador a partir do PQT, desmancha-se aquele padrão hierárquico de organização (Gerente, supervisor, trabalhadores...) e agora o trabalhador passa a ser visto como co-participe do sucesso da empresa, o mesmo tem que ter qualidades como iniciativas, criatividade, liderança, etc. Todo esse aparato psico-empresarial proporciona ao trabalhador um sentimento de auto valorização, de pertencimento na empresa, a ilusória frase ?eu visto a camisa da empresa?, tudo isso distancia o trabalhador de sua real luta, a Luta de Classe. Nessa fase o mesmo não se percebe mais enquanto classe, coletividade, apenas mais um na ?corrida dos ratos[3]? mergulhado em sua individualidade e ávido por sucesso, premiação e promoção na empresa.
Há quem faça severas críticas a esse modelo pós-moderno de administrar, uma vez que este não trabalha a igualdade, a coletividade, a repartição dos lucros, esse modelo escamoteia a realidade da exploração, agora de forma menos sentida, logo, menos sofrida. Segundo Seligmann (1994) é uma forma de controle sofisticado onde:
As instrumentações de dominação que se fazem através da desinformação, da utilização de sentimentos e da estimulação do orgulho pelo trabalho bem feito são algumas das técnicas adotadas pelo poder que recebem fortalecimento considerável da disciplinação, favorecendo a eficácia da mesma, preparando o terreno para garantir a aceitação das exigências disciplinares. Desta forma, assegura-se também que os ?corpos dóceis?, de que nos fala Foucault, se tornem ainda mais dóceis. (1994: 97-98).


Com essas exemplificações agrego à tese que defende Antunes e Alves (2004), que não há o fim do trabalho e sim uma reorganização nesse mesmo mundo e consequentemente também a classe trabalhadora se organiza conforme se organiza o trabalho, sendo assim a classe trabalhadora hoje é compreendida pela totalidade dos assalariados, homens e mulheres que vivem da venda da sua força de trabalho ? classe-que-vive-do-trabalho, despossuídos dos meios de produção.

[3] Referência retirada do livro Pai Rico Pai Pobre de Robert Kiyosaki e Sharon Lechter




[1]Base microeletrônica (chips). Exemplos: computador, máquinas de controle numérico computadorizado, robôs, CAD-CAM (de Computer Aided Design e Computer Aided Manufacturing; o desenho e produção industrial com auxílio de computadores, etc. (Coletânea diversas)
[2]Terceirização, just-in-time, kanban, ilhas de produção, trabalho em equipe, condomínio ou pólo industrial, os Círculo de Controle de Qualidade - CCQ, a qualidade total, etc. (Coletânea diversas)


Referencias Bibliográficas.

Antunes Ricardo e Alves, Giovanni. As mutações no mundo do trabalho na era da mundialização do capital. Educ. Soc., Campinas, vol. 25, n. 87, p. 335-351, maio/ago. 2004.
PINTO, G. Augusto. A organização do trabalho no século 20: taylorismo, fordismo e toyotismo. São Paulo: Expressão Popular,2007.
SELIGMANN, Silva, Edith. Desgaste Mental no Trabalho Dominado. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Cortez Editora, 1994








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