Império do medo, por Aloyzio Achutti*
Sociologia

Império do medo, por Aloyzio Achutti*


O susto, a surpresa, a insegurança e o medo atrapalham qualquer um, dificultando as reações de defesa e a tomada de decisões racionais e as mais adequadas. Quando incidem sobre uma multidão, ou atingem a população, seus efeitos se potencializam e podem assumir proporções catastróficas.

A julgar pelas manchetes, parece que se está vivendo no império do medo: gripe suína, febre amarela, dengue, crise financeira, quebra da bolsa, sequestro da poupança, desemprego, despejos, falência das instituições, chantagem, propaganda enganosa, cascata de corrupção, difamação, ruína da família, descrédito na Justiça, deportações, atentados, terrorismo, pânico, homens-bomba, sequestro relâmpago, rapto, estupro, assaltos, invasões, arrastão, assassinatos, bala perdida, genocídio, guerra, armas de destruição em massa, bomba atômica, aquecimento global, poluição ambiental, espécies em extinção, agrotóxicos, inundações, seca, raios, tornados, ciclones, queda de meteorito, desmatamento, desertificação, contaminação dos mananciais, racionamento de energia e de água, fome, obesidade, câncer, infarto do miocárdio, aids, tuberculose, hepatite, Alzheimer, loucura, morte súbita, acidentes de trânsito, tráfico de drogas, e outras tantas barbaridades...

Tem para todos os gostos e sensibilidades, e contemplando globalmente é um terror.

O medo deveria ser um mecanismo de proteção, mas exagerado estraga com a vida e pode provocar respostas piores do que o mal que o gerou. Terá valido a pena todo o aparato contra o terrorismo internacional?

Se não for o império, é ao menos a cultura do medo que se observa. É possível que o volume de informação circulante e o nível progressivo de estímulo a todos os sentidos tenham propiciado este fenômeno.

Existe uma tese que tenta explicar a necessidade crescente de se expor a situações de risco (que causam medo e liberam ?adrenalina?) como uma reação inconsciente contra a depressão difusamente presente em todo a sociedade, consequente ao aumento populacional e às frustrações pelo homem mesmo fabricadas. Nossos mecanismos de reação ao perigo (que causa medo) se acompanham de concentração da atenção e certa euforia e disponibilidade transitória de mais força para facilitar a superação. Estes mecanismos fisiológicos podem ser comparados ao efeito da nicotina e o de outras drogas sobre o organismo. Isto tem a ver não somente com a disseminação do uso de substâncias psicoativas como também com a busca de situações apavorantes reais ou imaginárias. Até a prevalência maior de hipertensão em populações urbanas poderia ter aí uma de suas explicações.

Certamente, há também os que se aproveitam da situação para tirar ganhos econômicos, exercício de dominação/dependência, discriminação e xenofobia. A cultura do medo oportuniza manipulação social e gera progressiva insensibilidade, que pode desmoralizar os sinais de alarme e retardar a resposta quando ela realmente se fizer necessária.

Pode-se ter esperança em ganhos secundários: alguns simples como hábitos de higiene e de civilidade (lavar as mãos e evitar o contágio pela tosse e pelo espirro sem proteção). Quem sabe, também, se ficar evidente que quase tudo que causa medo não acontece por acaso ou por obra de demônios, mas sim do próprio homem, invista-se mais em educação e na cultura da racionalidade e do diálogo, já que violência somente leva à destruição e à infelicidade.

*Médico

Fonte: Jornal Zero Hora,
08 de maio de 2009 - N° 15963



loading...

- Medo, Insegurança, Liberdade
Vivemos em um mundo tão repleto de incertezas e medos que, incrivelmente, parece que somos reféns da nossa própria vida. Tudo isso também é reflexo da fragilidade a qual estamos submetidos através dos bombardeios cotidianos de notícias veiculadas...

- Dica De Leitura: Confiança E Medo Na Cidade
Um bom livro é "Confiança e Medo na Cidade" de Zygmunt Bauman. Neste livro, o autor aborda como a cidade do nosso tempo se transformou em um território de medo e insegurança. A tendência que vivenciamos por conta desta realidade é a criação de...

- O ?habitus? Português (3)
Eis que, passadas menos de 24 horas, sobre esta verdadeira demonstração de cidadania e solidariedade, e no dia Mundial Contra a Sida, nos confrontamos com o resultado de um outro estudo que nos deve fazer a todos, simples cidadãos, responsáveis políticos...

- [professora Maria Emilia] Texto Para Aula De CoerÊncia
Espaço cedido para a professora Maria Emília. Divulgação dos textos que usarei com os alunos do ensino médio: A tirania do medopor Cauê Ameni e Hugo Albuquerque em Carta Capital - 28/04/2015 Nada diferente do que o filósofo luso-holandês Baruch...

- Ser Diferente é Normal! Nós é Que Temos Medo Do Diferente!
 Durkheim, faz analogia da sociedade à um organismo, diz que cada indivíduo desta sociedade é frágil em relação às regras sociais, pois é seguidor arisco e vem do ser humano seguir atentamente as regras de uma sociedade, pelo medo de o não...



Sociologia








.