Jornalismo e a lógica da fofoca - O jornalismo "urubu" no Brasil
Sociologia

Jornalismo e a lógica da fofoca - O jornalismo "urubu" no Brasil


         
  Assistir ao jornal em busca de novas notícias e informações é um comportamento comum do brasileiro médio. Quando ligamos a televisão para assistir notícias, esperamos que a "realidade" seja mostrada para nós. Depois de um dia de trabalho, uma noite de sono, a expectativa compartilhada é que as notícias mais importantes sejam apresentadas pelos diferentes jornais. Porém, as notícias constituem uma realidade selecionada. Já que cobrir, por exemplo, a Dona Cristina tropeçar na

calçada não é uma notícia relevante. Porém, como mostra a foto ao lado, nem sempre esses critérios são levados em conta, já que algumas matérias são dignas de sentir vergonha alheia). Neste sentido precisamos entender os critérios de seleção das notícias e as consequências desta seleção.


       Os jornais no Brasil são, em sua esmagadora maioria, vinculados a grandes canais de televisão com interesses privados. Em outras palavras, os jornais televisivos são produzidos por empresas privadas. Entre os interesses em destaque, estão o lucro que esses canais buscam com anúncios e parcerias. O mais importante para um canal privado de televisão é alcançar o maior número de telespectadores, que chamamos normalmente de audiência. De forma simplificada, audiência alta em um programa significa ter empresas pagando muito caro para anunciar no horário do programa. 

Os jornais assumem então um compromisso de trazer notícias e informações relevantes, mas sempre pensando em manter a audiência alta. No Brasil se descobriu que a lógica da fofoca é uma das receitas mais lucrativas para os jornais. A fofoca constitui uma informação compartilhada por ser, em sua grande maioria, uma visão negativa da realidade. O jornalismo segue essa lógica e rapidamente a informação que recebemos em casa se resume em morte, estupro, bala perdida, assalto, corrupção, trafico de drogas e o que mais você conseguir pensar de desgraça e violência que pode te prender em frente ao televisor. 

            O jornalismo do medo se justifica dizendo sempre: "Nós apenas mostramos o que o povo quer ver". Assim, a violência estampada na televisão é vinculada sem nenhum critério de idade e horário. Pensem só o quanto nossos critérios de (pode ou não pode) são moralistas e altamente contraditórios. 
         Sexo não pode, violência e álcool pode. Cigarro já teve propaganda na televisão, agora não pode. Mas ter um programa no meio da tarde falando de tiro na cabeça, estupro e relatos de esquartejamento pode? Programas como Brasil Urgente, Cidade Alerta, Balanço Geral, Casos de Família, etc são dignos de inspiração para os filmes de Quentin Tarantino.
        Aqui no Sul tivemos recentemente o caso do menino Bernardo. Na época, eu almoçava escutando a televisão do vizinho do meu apto, com a madrasta e o pai do Bernardo dizendo que iria matar uma criança, que queria a criança morta. Aí rapidamente você me pergunta: Mas qual o problema? Não é só desligar a televisão?
       Muitos dizem: "Não quer assistir? Desligue a televisão ou mude de canal" Ou ainda "o melhor é o controle remoto, não gostou? Troque de canal". Mas parem e pensem. Será que a maioria da população possui critérios claros do que consomem de programas e informações da televisão? O que faz o telespectador assistir o quadro da Banheira do Gugu? O programa mais surreal da televisão brasileira, assistido por famílias inteiras reunidas no domingo.

           Qual o grande problema deste quadro surreal apresentado? É que um dos maiores agentes do pessimismo sobre a realidade do próprio país é a televisão. Se todas as vezes que ligamos a televisão vemos apenas o lado mais violento, superficial e negativo, como

será a mentalidade do brasileiro médio? O cidadão trabalha o dia todo, em muitos casos, em dois empregos ou fazendo "bicos" e quando quer algum acesso ao noticiário se depara com este quadro de dor e ódio.  
   Neste sentido, não é surpreendente que grande parte das soluções que emergem deste imaginário social é a pena-de-morte e o linchamento. Quando encharcamos o dia-a-dia do cidadão com violência e superficialidade, o que esperar do pensamento comum? Paz e alegria?
          Existem inúmeros vídeos e sites explicando como funcionam os mecanismos e os métodos de contagem da audiência do Brasil. Mas vale muito conferir também algumas propostas de modificação das atuais regras de concessão e de uma televisão mais democrática (http://slideplayer.com.br/slide/49471/). Se o conteúdo da televisão e dos respectivos jornais são em grande medida, reflexo do tipo de mentalidade mais recorrente no país. É necessário dizer que a mentalidade do brasileiro médio é também de responsabilidade do que é veiculado na televisão brasileira.    


           Se existe uma solução simples para mudar este quadro? Acho que não. Entre outras medidas, acredito que a inclusão de novas regras de vinculação de conteúdo (horários, informações sobre a recorrência desses fatos na realidade) e a inclusão de novos canais culturais e públicos na televisão aberta no Brasil (Vamos debater?). Um dos jornais nacionais que acho o de melhor qualidade e profundidade é o Jornal da cultura, com notícias muito mais amplas e comentários bem relevantes e instigadores do debate nos lares. E você, o que tem a dizer sobre o jornalismo do Brasil?  




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