O "Novo Instrumento" entre o senso comum e a ciência moderna
Sociologia

O "Novo Instrumento" entre o senso comum e a ciência moderna


René Descartes não foi o único a contribuir com advento da ciência moderna. O pensador Francis Bacon, autor de Novo Organum (Novo Instrumento) ou Verdadeiras Indicações Acerca da Interpretação da Natureza (1620), elaborou um novo método pautado na "cura da mente", na qual ela é regulada por meio de mecanismos da experiência. Nessa perspectiva, defende que a mente não deve guiar-se por si mesma e que a ciência não é fruto do mero exercício mental.

Bacon propõe dois métodos: o cultivo das ciências e a descoberta científica. O primeiro consiste na ideia do conhecimento contemplativo, próprio da filosofia tradicional, é, portanto, a antecipação da mente: a base para o senso comum; já o segundo refere-se à busca do conhecimento novo por meio da exploração e experimentação sem limites, está relacionado à interpretação da natureza. É nesse sentido que Bacon afirma: "A verdade não deve, porém, ser buscada na boa fortuna de uma época, que é inconstante, mas à luz da natureza e da experiência, que é eterna".

O objetivo de Francis Bacon é, sobretudo, elaborar uma ciência útil e clara, que se oponha à fantasia e seja capaz de lutar contra a natureza, participando da dinâmica de inovações permanente que faz parte dela. Para ele, a filosofia tradicional não colabora para o bem-estar do homem, por isso, faz uma crítica aos gregos e à sua filosofia, afirmando que "sua sabedoria é farta em palavras, mas estéril em obras", como também que "não há um único experimento de que se possa dizer que tenha contribuído para aliviar e melhorar a condição humana".

No Novo Organum estão presentes aforismos sobre a interpretação da natureza e o reino do homem, nos quais o pensador discorre, por exemplo, sobre a exploração da natureza como a única forma de compreendê-la, interpretá-la e vencê-la; sobre a necessária inovação como incremento da ciência moderna; como também sobre as falsas percepções do mundo, denominadas "ídolos", que, muitas vezes, instauram-se no intelecto humano, obstruindo-o e tornando difícil o acesso à verdade.

Os ídolos que bloqueiam a mente humana são de quatro gêneros: os ídolos da tribo, os da caverna, os do foro e, por fim, os do teatro. Os primeiros vinculam-se às distorções provocadas pela mente humana, são a interferência das paixões e a incompetência dos sentidos; os segundos referem-se às relações estabelecidas pelo homem com o mundo a sua volta, compreendem a formação dos indivíduos, as leituras e a educação; já os ídolos do foro (ou da feira) estão relacionados ao indivíduo e à influência de suas associações, nestes, estão compreendidos o comércio e as relações pessoais e sociais; e, finalmente, os últimos vinculam-se às representações teatralizadas e impregnadas de equívocos e de superstições, referem-se aos sistemas filosóficos, à astrologia e à magia.

A ciência moderna, para Francis Bacon, deve-se, portanto, à busca contínua do intelecto humano pelo conhecimento, na qual aquele sempre procura ir adiante, sem se deter ou repousar. Enfatiza a ideia do infinito como base para outros avanços, cujo maior obstáculo é a falácia dos sentidos.




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