Friedrich Engels em sua obra "Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico" (1880) expõe racionalmente a diferença entre esses dois tipos de socialismo presentes no titulo. Ao analisar os antecedentes históricos do surgimento do socialismo utópico, Engels parece afirmar que a intenção inicial dos movimentos iluminista e revolucionário burguês de subverter a ordem vigente do Antigo Regime e implantar um governo liberal (onde os valores de liberdade e igualdade seriam normatizados), foi de caráter essencialmente "justo" para os participantes daqueles movimentos. Porém, uma vez no poder, a burguesia logo tendeu ao conservadorismo político (ao praticamente estabelecer uma oligarquia burguesa) e à exploração das classes sociais desfavorecidas, sendo que estas foram essenciais para que as revoluções liberais triunfassem.
Frente a essa "traição" burguesa para com o proletariado, uma vez que a burguesia cria seus próprios privilégios, traz libertação somente a si mesma e estabelece a liberdade de mercado como a mais importante dentre todas; houve o surgimento de ideias sociais de intelectuais notáveis (como Henri de Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen), que mais tarde derivariam no socialismo primitivo ou utópico. Engels consegue sintetizar aquelas ideias, explanando seus principais pontos de destaque, as características que aqueles pensadores propunham estarem necessariamente presentes em uma sociedade igualitária e libertária. Todavia, fica claro para Engels que essa vertente socialista é inviável no mundo concreto, não tendo dos próprios autores métodos para a criação dessas sociedades ideais, por isso essas ideias são denominadas como socialismo utópico, pois são fantasias, ilusões.
Engels, então, presume que o socialismo não deve se situar no campo metafísico das ideias, mas sim no âmbito cientifico, portanto, na realidade. Um ponto de extrema importância na construção da ideologia marxista, na qual Engels foi co-fundador com Marx, é o uso da dialética (construção de uma tese com o surgimento de uma antítese, sendo que ambas convergem para uma síntese) para analisar os diversos momentos históricos, tirando dessa investigação as leis da História. O conhecimento dessas leis permitiria encontrar as contradições inerentes ao capitalismo, sistema econômico duramente criticado pelos fundadores do marxismo (já que dentre outras coisas explorava a mais-valia do trabalho proletariado), buscando assim, sua apropriação e substituição pelo sistema socialista. Esse novo sistema finalmente levaria com que os meios de produção fossem de proveito para todos os homens e não apenas de uma classe, trazendo supostamente prosperidade e paz para o mundo (sendo que o Estado se extinguiria, uma vez que não há mais conflitos).
Cabe ressaltar também a existência de uma concepção marxista inovadora em sua época, a da lutas entre classes. Engels e Marx concluem que ao longo da história da humanidade, sempre houve lutas entre classes, sendo que essa luta seria o próprio "motor da História". E que na Idade Contemporânea, a atual, a burguesia e o proletariado estão presentes nessa luta em pólos completamente distintos, respectivamente de acumulação de riqueza e de miséria. Conclui-se que ao utilizar-se do pensamento marxista dialético, Engels (e consequentemente Marx) deu aos homens uma nova opção sistemática econômica a ser seguida. Foram inovadores e brilhantes nesse sentido, apesar de que seus seguidores parecem ter perdido ao longo de suas exaustivas tentativas (e algumas implantações fracassadas) o verdadeiro caminho proposto por esses importantes intelectuais do século XIX.