Solidariedade zero
Sociologia

Solidariedade zero


Isso acontece todos os dias, onde está a nossa solidariedade?

Será que não somos mais capazes de nos colocarmos no lugar do outro?

Por que agimos assim?

Leia e reflita sobre essa crônica :


Solidariedade zero

Por Walcyr Carrasco

Estou na podóloga. Jogamos conversa fora enquanto ela ajeita minhas unhas. Como de praxe, falamos sobre assaltos, tão comuns no dia a dia do paulistano. Recentemente, conta ela, assistiu a um, em frente ao seu salão: três rapazes arrombaram um carro, sem se importar com o alarme, depenaram e fugiram. Fico espantado.

- Você não chamou a polícia?

- Eu não! Tive medo de que eles descobrissem e se vingassem mais tarde.

Observo a rua. Há uma banca de revistas, dois bares e prédios com porteiros devidamente protegidos por grades. Indago:

- Como saberiam, se você está aqui dentro?

- Ah, não sei... Mas o homem da banca disse que eu fiz bem.

É uma atitude frequente. Assaltantes cometem violências diante de testemunhas que desviam o olhar. Nos semáforos, enquanto alguém é roubado, os outros motoristas ficam em silêncio, imóveis. Raramente alguém chama a polícia. Ao sair de um caixa automático de um banco, à noite, certa vez um conhecido testemunhou o que poderia ser um sequestro-relâmpago. Uma jovem em lágrimas era levada para dentro de um carro, onde já havia um motorista esperando. Surpreendi-me:

- Ficou quieto? Não fez nada?

- E se fosse só uma briga de família? Com que cara eu ia ficar?

- Se a moça estava chorando e sendo forçada a entrar no carro, mesmo pelo marido, você teria feito muito bem em pedir socorro - respondi.

Recebi de volta uma expressão de desagrado.

As pessoas preferem se abster. Pior: às vezes ficam aliviadas, por não serem elas mesmas as vítimas. Somem de cena, voam para seus carros, enquanto alguém se rala. Dia desses uma amiga comentou, falando de outra:

- Estava conversando no celular no meio da rua. Também, pediu para ser assaltada!

Além de ser roubada, a pessoa ainda leva a culpa? É um jeito muito maluco de encarar a situação. Mas comum. Recentemente, um conhecido comentou:

- Fui assaltado quando passeava no bairro de noitinha. A culpa foi minha, porque aquela rua é muito vazia.

Foi assaltado e a culpa é dele mesmo? Estava andando em um local cheio de prédios, com porteiros e zeladores que assistiram impávidos à violência.

O descaso se estende até a situações onde não há violência explícita. Certa vez, na Rodovia Raposo Tavares, passei por um carro parado na pista do meio. O motorista caído sobre o volante. Os veículos desviavam. Impossível parar e atravessar a pista para ajudar, devido ao trânsito. Acelerei até o posto rodoviá-rio. Pedi socorro, mais por desencargo de consciência. Estava certo de que muitos outros já haviam feito o mesmo. Coisa nenhuma! Ninguém tinha se dado ao trabalho de avisar!

Não me julgo um exemplo. Só tento me colocar no lugar da pessoa. Como me sentiria se me roubassem e todo mundo fingisse não ver? Há maior solidão do que essa? No entanto, abandonar o próximo em uma situação difícil não é uma total falta de compaixão?

Sinto que o cidadão trocou a segurança pela burrice. Durante o papo com a podóloga, questionei:

- E se todo mundo, você, o revisteiro, o pessoal dos bares, os porteiros, chamasse a polícia todas as vezes em que houvesse um assalto?

Ela me olhou admirada. Concluí:

- Em pouco tempo a situação iria se inverter. Os ladrões deixariam de roubar por aqui.

Ela suspirou e terminou de lixar minhas unhas. Prometeu que vai mudar de atitude. Será? Fui embora com a sensação de que a vida na metrópole será muito melhor quando cada um descobrir que se tornará mais forte ao ajudar o próximo.


Fonte: Revista Veja São Paulo - Edição 2117 - 17 de junho de 2009




loading...

- Atividade De Sociologia - 1001 - C.e. Engenheiros Passos
Robson e a sua deserta ilha Acordei no chão da calçada como se eu fosse um barco naufragado. Todos os meus amigos estão mortos-vivos, compulsivos em pedras sem brilhos que são fumadas em cachimbos feitas de lata. Nunca vi algo tão horroroso e destrutivo....

- "que Democracia é Essa? Se é Que é Uma Democracia...isso Me Cheira à 64", Relato De Um Leitor
Parecia ser mais um dia de manifestação em prol do passe livre. Posted  Carlos Everardo Silva Já estava combinado, às 17hrs na praça do cilista. Quando cheguei notei uma grande quantidade de ?apartidários?. Procurei onde a esquerda...

- Onde Fica O Gol? - Por Martha Medeiros
Em função da mobilização com a Copa do Mundo, andei me lembrando de uma conversa que tive com um amigo, anos atrás. Ele liderava uma equipe numa agência de publicidade e trabalhava em ritmo alucinado. No decorrer do papo, ele desabafou dizendo que...

- As Ideias De Engels E Marx Nos Dias De Hoje
No texto "Do Socialismo Utópico ao Socialismo Cinentífico", Engels e Marx aborda as diferenças entre os termos Socialismo Utópico ( que apenas criava ideias na base da destruição completa dos privilégios da burguesia e nada fazia) e Socialismo...

- O Que Eu Vou Ser Quando Eu Crescer?
Murilo estava a algum tempo pensando em que diria, caso a pergunta que a professora acabara de fazer a seu colega fosse destinada a ele:O que você quer ser quando crescer?Médico, advogado, economista, escritor, poeta,jogador de futebol...eram tantas...



Sociologia








.