Tirando a corda do pescoço
Sociologia

Tirando a corda do pescoço


    Foi um suicídio? Não, foi apenas uma tentativa de me desligar de mim mesmo, de fugir de todas as pressões existentes na minha vida. Desde pequeno fui regulado a agir de determinada forma, não podia falar alto, tinha que mastigar de boca fechada e nunca falar de boca cheia, eu tinha que bocejar com as mão na boca, respeitar os mais velhos, mesmo quando me desrespeitavam, tirar boas notas, ler muitos livros, ser culto, não podia ser amigo de pessoas que tinham caminhos tortuosos,  tinha que andar bem vestido.
    Quando cresci, descobri que isso não bastava, era preciso ser rico, inteligente, viajado. Aos trinta anos me disseram que era preciso me casar depressa e ter filhos, disseram também que eu necessitava saber várias línguas além do português e inglês, ao contrário, meu currículo estaria ultrapassado e também me disseram que eu precisava viver.
    Fui várias coisas, um bom amigo, o orgulho dos meus pais, um garoto exemplar no colégio e um excelente funcionário. Fui tudo que disseram para ser, menos eu mesmo. Mas afinal, quem seria eu senão a reunião de toda a coletividade? Nem ao tentar me desligar de todas essas pressões eu tive êxito, agora estou em coma, meus pais estão no quarto do hospital desolados, no momento, um culpa o outro pelo fato ocorrido, mesmo ao tentar me livrar das amarras sociais, me sinto preso a elas, meus pais estão presos também, todos estamos presos a esse emaranhado, talvez a forma de eu me suicidar seja tirando a corda de meu pescoço e seguindo o caminho que eu desejar trilhar na minha vida.
    O coma foi apenas uma forma latente, uma forma abstrata e não literal de me libertar, o suicídio não foi uma morte de fato, em que minha alma resolveu descansar e meu corpo desfaleceu, mas sim uma ruptura com o meu "eu" imposto socialmente e o que eu desejo ser. Hoje sou mais um fato social, segundo Durkheim, fui me desvencilhar de mim, de todos, mas na verdade continuo preso. 

Ariane do Nascimento Sousa
1º ano Direito Noturno
Durkheim - As Regras do Método Sociológico (Cap.1)



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