A consciência coletiva não é uma simples somatória ou média das consciências individuais, mas algo diferente, imposto aos indivíduos e preservado através das gerações.
Em sociedades pouco complexas, a consciência coletiva é comum aos membros da sociedade e regula seus pensamentos e ações, não permitindo a diversificação e punindo qualquer comportamento que não obedeça a consciência coletiva. No entanto, em sociedades complexas, essa consciência deve ser diversificada para que a coesão social seja preservada.
Para Durkheim, o funcionamento das diversas sociedades é análogo a um organismo vivo em que os órgãos são interdependentes, por isso as funções sociais específicas à cada indivíduo são de grande importância pelo que representam no conjunto das relações sociais, seja pela semelhança ou diversidade de tais funções. É essa divisão do trabalho social que gera a solidariedade social.
Existem dois tipos de solidariedade social: a mecânica e a orgânica.
Nas sociedades onde a divisão do trabalho é pouco desenvolvida e, portanto, não há um grande número de especializações das atividades sociais, prevalece a solidariedade mecânica. Nelas, a união entre os indivíduos deriva da semelhança, ou seja, os indivíduos diferem pouco uns dos outros e todos compartilham as mesmas crenças, os mesmos valores e os sentimentos são comuns. Nessas sociedades, a consciência coletiva exerce todo seu poder de coerção sobre os indivíduos. Essa solidariedade é típica das sociedades tradicionais.
A solidariedade orgânica resulta do avanço da divisão do trabalho social, que torna os indivíduos interdependentes, pois exercem funções específicas e diferentes na sociedade. Neste caso, a interdependência contribui e garante a coesão social no lugar dos costumes, das tradições e das crenças comuns. Os membros se tornam solidários, porque têm uma esfera própria de ação, uma tarefa a cumprir, mas reconhecem a necessidade do outro, justamente porque o outro é diferente e indispensável à sua sobrevivência, pois dependem uns dos outros para que o conjunto das atividades se realizem. Nas sociedades em que prevalece a solidariedade orgânica, a consciência coletiva se torna mais branda, e ao mesmo tempo em que os indivíduos tornam-se mutuamente dependentes, cada qual em sua especialidade, tende a desenvolver maior autonomia pessoal. Essa solidariedade é típica das sociedades modernas.
Seja na solidariedade mecânica, seja na solidariedade orgânica, o bom funcionamento das sociedades só é possível em razão do trabalho coletivo. O bem social prevalece ao bem individual, pois o sucesso individual depende sempre de todo o trabalho da sociedade, sendo esse pensamento indispensável no longo caminho rumo a tão importante igualdade social.