Sociologia
A questão hidrelétrica no Brasil
Um país que precisa de mais energia elétrica para crescer pode abrir mão da água como sua principal fonte de geração?
Em 22 de agosto de 1889, a água do rio Paraibuna girou pela primeira vez uma das duas turbinas importadas dos Estados Unidos compradas para a usina de Marmelos, na cidade mineira de Juiz de Fora. Naquele dia, eram gerados os primeiros watts-hora (Wh) de energia hidrelétrica da América Latina. A usina foi construída pelo industrial mineiro Bernardo Mascarenhas, que, ao visitar a Exposição Universal de 1878, em Paris, decidiu construir uma tecelagem que seria abastecida com energia de origem hidráulica. Meses depois de inaugurada, a primeira hidrelétrica brasileira passou a fornecer eletricidade para manter acesas 180 lâmpadas da iluminação pública de Juiz de Fora, antes alimentada a gás.
Dos primeiros 250 quilowatts de potência na usina Marmelos aos atuais 84.736 megawatts (MW) de capacidade hidrelétrica instalada no Brasil passaram-se mais de 120 anos e, apesar dos avanços tecnológicos e do tamanho das novas usinas, gerar eletricidade da água continua sendo basicamente igual: a força contida na correnteza dos rios movimenta uma turbina acoplada a um gerador, que transforma energia mecânica em elétrica.
Mas nunca na história deste país as hidrelétricas causaram tanta polêmica como agora. O centro da atual discussão é a construção da usina de Belo Monte, no Pará, a ser erguida às margens do rio Xingu. A obra, cujo preço é estimado em 32 bilhões de reais, deverá ser a terceira maior hidrelétrica do mundo ? atrás apenas das de Três Gargantas, na China, e Itaipu, no Brasil ? e criou dois times que lutam em campos opostos. No grupo dos especialistas, dos analistas econômicos e do próprio governo, apenas grandes hidrelétricas serão capazes de fornecer energia limpa e barata em escala suficiente para satisfazer a demanda crescente por luz elétrica no país. No time dos ecologistas e dos ativistas sociais, os ganhos são bem menores em comparação ao rastro de destruição que elas deixam para o meio ambiente, para as populações indígenas e para as comunidades ribeirinhas. Entre os dois pontos de vista, há um fato e um dilema: o Brasil é o país com o maior potencial hidrelétrico do mundo, com mais de 260 mil megawatts já catalogados. Apenas um terço disso é explorado. A riqueza dos rios brasileiros para geração de eletricidade é uma bênção da natureza ou uma maldição, que nos acompanhará por todo o século 21?
Poucos países no mundo desfrutam de um sistema hídrico tão generoso quanto o nosso. Os livros escolares apontam que 55.455 quilômetros quadrados (do total de 8.514.876 quilômetros quadrados que compõem a área do território brasileiro) estão cobertos por água, distribuídos em rios, lagos e riachos. É a abundância de rios e quedas-d?água que produz o enorme potencial de energia hidráulica.
Hoje, estão em operação mais de 180 grandes usinas, responsáveis por quase 70% da produção nacional de energia elétrica. Isso também faz do país o segundo maior produtor de energia hidrelétrica no mundo, com 12% da geração mundial, perdendo apenas da China. Segundo dados da
Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia, outros 73 projetos hidrelétricos estão em construção, incluindo as pequenas centrais. E mais 24 estão programados até 2020. A lista de projetos deve atender à crescente demanda. Estima-se que até aquele ano o consumo no Brasil deva atingir 730 mil gigawatts-hora (GWh) ? 52% a mais do que consumimos em 2011.
Leia a matéria completa em:
http://viajeaqui.abril.com.br/materias/questao-hidreletrica-brasil#1
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