Sociologia

Abandono e Insucesso escolar: uma realidade ainda actual

Com o começo de mais um ano lectivo, mais notícias sobre as escolas e o encerramento das mesmas invadem os ecrãs das televisões portuguesas. Isto leva-nos a reflectir quer sobre aquilo que a escola representa nos nossos dias, quer sobre aquilo que tem sido feito a nível da educação no nosso país. A verdade é que embora Portugal se tenha esforçado para tornar o ensino acessível para todos, e seja um dos países da União Europeia que mais verbas gasta ao apostar na educação, o abandono e insucesso escolar é ainda significativo. Vistas as coisas nestes termos, o que me ocorre, desde logo, é pensar nos principais factores que contribuem para a significativa taxa de abandono e insucesso escolar ainda presente em Portugal.

Não poderia começar a minha reflexão sobre os factores supracitados sem falar acerca da institucionalização da escolaridade obrigatória que, embora tenha surgido para travar o insucesso e o abandono escolar, acabou por não ter o efeito desejado. A obrigação de frequentar a escola, não agrada a todos e, ainda hoje, é indesejada para alguns indivíduos; para estes a frequência de uma escolaridade obrigatória cada vez mais alargada, constitui uma perca de rendimento o que contribui para que o ciclo de pobreza em que geralmente se encontram aumente. A implementação da obrigatoriedade trouxe consigo outras situações de difícil resolução, resultantes da passagem de uma escola de elites para uma escola de massas; os conteúdos escolares, os modelos pedagógicos, a formação dos professores mantiveram durante largas décadas os traços de uma escola que tinha maioritariamente crianças e jovens oriundos de grupos sociais letrados e favorecidos. Isto dificulta a aprendizagem daqueles que são oriundos de meios populares e mais desfavorecidos, gerando-se assim insucesso escolar.

Durante os 30 Gloriosos (anos que se sucederam após a segunda Grande Guerra), acreditou-se que a escolarização seria um veículo de desenvolvimento (social e territorial). Contudo, se atentarmos ao nosso País, verificamos que este efeito não foi produzido. O interior encontra-se cada vez mais despovoado, devido à vergonha que os jovens têm de estudar em áreas do interior ainda pouco desenvolvidas. Já nas áreas urbanas a escolarização não levou ao seu desenvolvimento, mas sim, ao crescimento do fenómeno de exclusão social.

O sistemático encerramento das pequenas escolas do interior do país é outro factor relevante no que respeita à significativa presença de abandono escolar em Portugal. Os jovens são forçados a deslocações por vezes longas para as escolas nos centros urbanos e são atendidos por docentes pouco motivados. O facto de num dia não lhes estar acessível um meio de transporte serve, muitas vezes, de desculpa para um dia de aulas perdido.

Para além da questão do encerramento escolar e da obrigatoriedade, é importante pensar, também, no modo como tudo o que gira em torno dos novos métodos de avaliação dos professores pode afectar, de alguma forma, a aprendizagem dos alunos.

Terminando a minha reflexão, acho importante que o nosso país tenha um olhar mais atento sobres os factores que têm contribuído para as elevadas taxas de insucesso e abandono escolar. Será o encerramento escolar, uma medida mais actual tomada pelo governo português, a melhor forma de resolver os problemas?

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