Sociologia
Gramsci e o Pseudomarxismo
Gramsci e o Pseudomarxismo
por marcos lopes
É comum no interior do pseudomarxismo a idolatria por determinados autores e "líderes": Lênin, Mao, Stálin, Guevara, Trotsky, entre outros. Gramsci é outro que recebe o título de ídolo dos pseudomarxistas. Trocam-se os líderes e a idolatria, mas sempre se mantém os líderes e a idolatria. O reconhecimento da contribuição e da obra de determinados pensadores ou militantes vira coisa religiosa, na qual a verdade e o compromisso com a transformação social são secundarizados. O proletariado real de nada vale, o que vale é o proletariado encarnado nas obras destes autores, a vanguarda de Lênin ou o partido-príncipe de Gramsci. Nas suas formas mais exageradas ficam excessivamente visíveis e até alguns pseudomarxistas perceberam e abordaram o "culto da personalide" (Stálin).
Porém, o marxismo autêntico tem que ir contra essas idolatrias e líderes. Criticar, desmistificar, mostrar sua real face. Alguns marxistas autênticos, ou pelo menos próximos, possuem dificuldade em fazer isso, devido ao culto da autoridade inculcado pela sociedade capitalista desde que nascemos e também pela força da tradição. Até alguns que se dizem "libertários" temem e barram quando se encontram diante do busto de Lênin ou de Gramsci, dois ídolos de barro do pseudomarxismo.
Felizmente, nem todos são assim. Historicamente, alguns pensadores como Pannekoek, Korsch, Mattick, Smith e outros criticaram tais ídolos, como Lênin, Trotski, e vários outros. Hoje, contemporaneamente, Nildo Viana vem desempenhando esse papel de crítico revolucionário do pseudomarxismo. Assim, em um texto da década de 1990, já falava da Crise do Pseudomarxismo, do fracasso e do caráter do pseudomarxismo. As suas críticas ao pseudomarxismo de Mao Tse-Tung, Lênin, Engels, entre outros, já é por demais conhecida.
Porém, além disso, agora passou a pesquisar e desmistificar Gramsci, idolatrada e pouco e mal lido, mas a força da tradição faz muitos ficarem reticentes com as críticas que Viana lhe endereça. Sim, força da tradição, aliada a medo e certa covardia, que não combinam com o espírito revolucionário. Não existem revolucionários covardes, como já dizia Karl Jensen, o que pode existir são covardes que se dizem revolucionários sem o sê-lo autenticamente ou suficientemente. Essa reticência vem, obviamente, dos resquícios existentes de idolatria, força da tradição, sem dúvida. Mas manifesta também insegurança. Hoje em dia, criticar Lênin no interior da esquerda não é tão incomum, embora, em 1989, por exemplo, quando um jovem estudante de ciências sociais o fez num jornalzinho, devia ser. O título era sugestivo: "Vida e Morte do Leninismo". Era 1989, ano da queda do Muro de Berlim, mas seus efeitos na pseudoesquerda e na formação de uma nova esquerda ainda demorará. Mas tal jovem era corajoso e continua a sê-lo, não foi apenas ímpeto de juventude e sim posição revolucionária e radical, que só os grandes revolucionários têm coragem de fazê-lo seja qual for a situação. "Os gênios são considerados loucos", já se disse e nenhum revolução teórica pode ser realizada dentro da repetição e da conservação do que existe, o que é impossível e contradição, revolução é transformação, superação, crítica. E fazer isso é ir contra as ideologias e ideias dominantes e por isso são chamados de "loucos".
Certamente, muitos viram com reticência tal crítica, assim como hoje olham com reticências a crítica a Gramsci. Já que não existe uma tradição de crítica a Gramsci - como existe a Lênin, embora Viana afirma que exista e seja pouco conhecida e numericamente pequena - mostram apenas os seus horizontes limitados. "A coragem é revolucionária, o medo é conservador", já dizia Erich Carlton.
A crítica ao pseudomarxismo de Gramsci é forte e poderosa, apesar de breve e introdutória. Mas mostra os vínculos de Gramsci com uma concepção reformista e vanguardista, maquiavélica, para aquele leitor de Maquiavel. O autor mostra também a pobreza metodológica de Gramsci, explicada, em parte, por sua situação na prisão, o que mostra que Viana critica mas sem descontextualizar e ser injusto. Mas o alvo principal de Viana parecer ser os "gramscianos" (alguns acadêmicos, outros reformistas e ainda aqueles que "dançam conforme a música" e se Gramsci está em evidência na pseudoesquerda...), os criadores de ídolos de barro, que logo se desmancham quando alguém realiza a crítica. A mesma honestidade intelectual, digna de quem expressa a perspectiva do proletariado, pois o compromisso com a verdade é parte dessa perspectiva, se manifesta quando observa os pontos de convergência e divergência com Lênin. Enfim, é uma análise global do pensamento de Gramsci, que tem outros aspectos não revelados e que o serão em obra mais complexa, citada em uma de suas notas sobre Gramsci (um texto parece que ainda não publicado intitulado Introdução à Crítica da Ideologia Gramsciana). Pobres são aqueles que tentam refutar o autor, como se ele fosse não-leitor, leviano, ignorante do pensamento de Gramsci, pois quem conhece suas obras e pensamento sabe muito bem do seu rigor e capacidade de pesquisa, sem falar das outras qualidades do seu pensamento, tal como sua erudição, citada, por exemplo, no texto Nildo Viana, um marxista esperantista.
Em síntese, Gramsci está morto, teoricamente falando, e o assassino foi Nildo Viana. Porém, o serviço ainda não está completo e quando estiver, as viúvas vão espernear, chorar, xingar, ainda mais, e nós não poderemos consolá-las, só lamentar por elas e não por Gramsci, pois os ídolos devem ser destruídos.
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