?De que tamanho podem ser os meus sonhos?? - Pensaram juntas, Sara e Cecília, uma sem saber da outra.
Cecília conheceu Sara em um sábado de inverno, as duas tinham em comum o fato de trabalharem desde os catorze anos, mas espera, este fato em comum talvez seja o mais repleto de divergências possível. Cecília começou a trabalhar porque, para ela, trabalhar era a única forma que ela teria de crescer para poder continuar trabalhando, e porque a situação em casa não estava indo bem. Já a Sara começou a trabalhar porque não queria crescer igual a um bando de pessoas crescidas que conhecia, e não queria que no mundo só crescesse a desigualdade, então arrumou três serviços, voluntários. Ela acreditava que se acreditasse, mesmo que ninguém mais acreditasse, o que ela acreditava ia começar a ser verdade. A Sara sabia sonhar, às vezes pensava em querer arrumar um serviço que pagasse dinheiro, mas pensava que já que tinha casa, comida, não passava frio (e dava jeito de arrumar agasalho pra quem conhecia que passava) e sabia sonhar, o dinheiro por enquanto era dispensável. Cecília queria encontrar um rapaz trabalhador, bonito e educado para casar, Sara queria um amor complicado das músicas, filmes e palavras. É que a irmã da Cecília tinha dezesseis anos, dois filhos e nenhum marido, e ela não queria ser assim também. E a Sara deixava de dormir para ler poesia. Tanto uma quanto a outra sonhava, escovava os dentes, assistia novela, ia em show de sertanejo e tinha Facebook. Mas quando se conheceram(e nisso já passavam dos vinte anos) a Cecília não sabia como funcionava essa coisa que a gente passa numa prova e pode estudar de graça, ?sem pagar nada?, pra se formar.
E foi nesse momento que pensaram juntas aquele pensamento em comum.
"comum
(latim communis, -e)1. Do uso ou domínio de todos os de um lugar ou de uma
em comum: partilhando algo com outro ou outros; em conjunto com outro ou outros."
(...)