Sociologia
Preconceito lingüístico?
Por Cristiano Bodart
(texto em PDF aqui)
O preconceito não é meramente lingüístico. Se for ampliar a percepção desse fenômeno chegará a mesma conclusão apresentada por Pierre Bourdieu, em sua obra ?A distinção?.
Trata-se de preconceito de classe. Em toda a história os hábitus (e não hábitos) dos economicamente desfavorecidos foram depreciados. Não é um problema de língua (ainda mais que não existe uma forma superior de escrita para além da classificação socialmente constituída ? num sentido hegeriano), mas uma questão de classe. Para ficar mais fácil a compreensão basta imaginar questões reais. O jeito do pobre falar, escrever, de se vestir, o tom de voz usado, a forma de segurar talhares, de comer, de sentar, de ornamentar a casa... são sempre depreciados. Isso ocorre porque são os grupos dominantes que ideologicamente definem o que é belo e o que é feio, o que é elegante e o que é deselegante, o que é certo e o que é errado.
Vejamos que quando os ricos eram gordos e brancos, na Idade Média Européia, era este o perfil de beleza. Na época a camponesa era magra (devido a dificuldade de alimentação e o trabalho no campo) e morena (devido os trabalho sob o sol), sendo classificada como feia. Hoje a classe social privilegiada tende a ter um perfil marcado pela magreza, cor bronzeada e corpo ?escultural? (fruto de academias, cirurgias, bronzeamento natural ou artificial, etc.). O pobre, ao contrário, tende a ter um aspecto diferente (fruto de muito trabalho, falta de lazer, de exposição ao sol, sem contar com a falta de acesso as cirurgias), tido como feio. Para ilustrar o que quero dizer, me reporto a uma frase que circula nas redes sociais: ?Eu não era feio. Eu era pobre?.
Historicamente, o poder esteve nas mãos dos detentores do capital econômico, o que os possibilitavam por meio dos aparelhos ideológicos definir o que seria certo e errado, belo ou feio. Se nos reportamos as mudanças entre as classes que detiveram o poder (revoluções), veremos como essas definições de feio e bonito, certo e errado mudaram. O que era certo na época dos imperadores (invadir propriedades alheias e tomar os bens, ou os despojos) passa a não ser mais certo quando a burguesia toma o poder (interessava agora criar leis de preservação do patrimônio privado). Um bom livro que demonstra brilhantemente como se formam os gostos (o que é bom, certo, errado, feio, apropriado, inapropriado...) é a obra ?O processo civilizador? de Nobert Elias. Nesta obra fica claro a relação dessas classificações (que criam tais preconceitos contra os desprivilegiados) com fruto de ideologias das classes que detiveram no poder.
Disto isto, chamo a atenção para superarmos essa visão particularista de que existe um ?preconceito meramente lingüístico?. Se quisermos compreender e romper com esse preconceito devemos encara-lo em sua forma real e complexa, como preconceito de classe.
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