A Sociologia como Artesanato Intelectual é o tema do próximo Congresso Brasileiro de Sociologia
A ser realizado de 30 de julho a 02 de agosto de 2013 na cidade de Salvador, o próximo Congresso da SBS terá como tema A Sociologia como Artesanato Intelectual, expressão cunhada por Charles Wright Mills em fins dos anos 50, em seu famoso e clássico livro A Imaginação Sociológica.
A reflexão de Mills continua atual, mantido integralmente seu forte apelo heurístico: convida-nos a (re)pensar a Sociologia em muitas direções. Crítico de um certo "empirismo abstrato" que permeava sobretudo a sociologia de matriz parsoniana e também de um pragmatismo vulgar que parecia querer nivelar o pensamento sociológico a parâmetros burocráticos da pesquisa, Wright Mills opôs ao formalismo instrumental, um ethos profissional pautado na própria experiência do pesquisador como um artesão do conhecimento. O Artesanato Intelectual implicaria, portanto, em duas importantes características para pensarmos hoje, no Brasil, a formação e atuação profissional do Sociólogo: primeiro, o Artesanato Intelectual exige uma formação curricular densa, plural, madura e contínua. Segundo, não pode prescindir das referências clássicas.
Em tempos de frenéticas buscas por um currículo "competitivo" e de uma rápida ascensão profissional - aspecto que parece ser uma característica inescapável da atual expansão das universidades brasileiras - , nada mais saudável do que refletir sobre o real significado de ser "produtivo" na academia de hoje. Longe daquele acúmulo desenfreado de papers e títulos, o intelectual-artesão busca lapidar ideias e conceitos que venham a contribuir de fato com a produção renovada do conhecimento.
O artesão intelectual não se apressa, mas caminha íntegro e ininterrupto. Sabe que o esmero e a originalidade do seu trabalho exige maturidade e muito conhecimento. Exige tempo! Mais do que isso: reclama uma criatividade que somente a imaginação sociológica, desimpedida do excesso de formalismos e imediatismos, pode prover o intelectual das capacidades necessárias ao exercício inovador da análise sociológica. Não se trata, pois, de acumular mais-valia intelectual (na forma inflacionada de papers e congêneres), mas de produzir algo substantivo que de fato contribua para a ampliação renovada de um conhecimento por si dinâmico e subjetivo.
Uma outra característica do Artesanato Intelectual de Mills é a referência permanente aos clássicos. Em outras palavras: o respeito à melhor tradição do pensamento acumulado e ao saber-fazer daqueles que, na prática artesanal da vida acadêmica, souberam ser mestres do ofício para os aprendizes do saber. Infelizmente, tanto na sociologia quanto na prática profissional, essas dimensões parecem estar francamente em declínio. Poucos parecem praticar uma sociologia verdadeiramente densa no sentido artesanal, em meio aos apelos imediatistas de uma corrida profissional muitas vezes equivocada porque referenciada em parâmetros mais quantitativos do que podemos realmente oferecer.
Por tudo isso a reflexão de Wright Mills parece-nos oportuna e atual em dois sentidos: pelo que ela pode nos fazer (reflexivamente) pensar sobre as condições do exercício profissional da sociologia; e sobre nosso próprio desempenho e contribuição que estamos a dar para o fortalecimento ético e crítico do nosso campo de atuação no mundo contemporâneo.
O XVI Congresso Brasileiro de Sociologia coloca-se, assim, como um fórum criativo e critico dos processos contemporâneos de produção do conhecimento, voltados à construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Rogerio Proença Leite
1º Secretário da SBS