Sociologia
Wright Mills: "A imaginação sociológica"
De tempos em tempos parece necessário resgatar alguns conceitos históricos desenvolvidos por sociólogos para que não caiam no esquecimento ou para que não tenham seu sentido desviado. Nos anos 1960, Wright Mills, sociólogo da tradição crítica norte-americana, desenvolveu o conceito de "imaginação sociológica", que ajudou muitos de seus alunos na época a se engajarem nos mais diversos movimentos sociais que emergiram naquele contexto agitado, além de questionarem as razões para uma Guerra com o Vietnã.
Wright Mills (1969) descreve o pensamento sociológico como uma prática criativa, que define como ?imaginação sociológica?. Essa prática criativa seria a tomada de consciência sobre a relação entre o indivíduo e a sociedade mais ampla. Trata-se da capacidade de conectar situações da realidade, como os interesses em disputa, percebendo que a sociedade não se apresenta de determinada forma por acaso. Essa conscientização derivada do conhecimento sociológico permite que todos (não apenas os sociólogos por formação) compreendam as ligações existentes entre o ambiente social pessoal imediato e o mundo social impessoal que circunda e que colabora para moldar as pessoas. Resgatando elementos específicos elaborados pelos pensadores sociais mais clássicos, Mills (1969) aponta como um elemento-chave dessa ?imaginação sociológica? a capacidade de poder visualizar a sociedade com um certo sentido de distanciamento, em vez de fazê-lo apenas da perspectiva das experiências pessoais e das pré-concepções culturais.
A ?imaginação sociológica? é um ato que permite ir além das experiências e observações pessoais para compreender temas públicos de maior amplitude. O divórcio, por exemplo, é um fato pessoal inquestionavelmente difícil para o marido e para a esposa que se separam, bem como para os filhos. Entretanto, o uso da ?imaginação sociológica? permite compreender o divórcio não apenas como problema pessoal individual, mas também como uma preocupação social. O aumento da taxa de divórcio redefine uma instituição fundamental ? a família. Com a perspectiva da ?imaginação sociológica?, Mills (1969) vai propor como possibilidade da sociologia permitir que o indivíduo relacione sua biografia com a realidade histórico-social, permitindo, assim, a conscientização do agente. Desta forma, poder-se-ia argumentar que o conhecimento sociológico pretende implementar o aprendizado tradicional, independentemente da futura profissionalização dos sujeitos. O sentido seria o de oferecer um instrumental analítico-reflexivo, forjado em todos os cidadãos. Cabe salientar que a ?imaginação sociologia? não consistiria simplesmente em aumentar o grau de informação das pessoas, mas: "O que precisam, o que sentem precisar, é uma qualidade de espírito que lhes ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fim de perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro deles mesmos" (MILLS, 1969, p. 11).
A utilização da ?imaginação sociológica? se fundamenta na necessidade de conhecer o sentido social e histórico do indivíduo na sociedade e no período no qual sua situação e seu ser se manifestam. Mills também sugere que por meio da ?imaginação sociológica? os homens podem perceber o que está acontecendo no mundo, e compreender o que acontece com eles, como minúsculos pontos de cruzamento da biografia e da história, na sociedade (MILLS, 1969, p. 14).
Como base nessa forma de reflexão, Schaefer (2006) entende que a ?imaginação sociológica? é uma ferramenta que proporciona poder, que permite olhar para além de uma compreensão limitada do comportamento humano, ver o mundo e as pessoas de uma forma nova, através de uma ?lente? mais potente que o olhar habitual. Pode ser algo tão simples como entender por que alguém com quem temos afinidades prefere música sertaneja ao hip-hop ou entender as diferenças culturais entre as populações do mundo.
MILLS, Wright C. A imaginação sociológica. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969. 246p.
SCHAEFER, Richard T. Sociologia. 6ª edição. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.
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