CONVERSANDO SOBRE VIOLÊNCIA ESCOLAR
Sociologia

CONVERSANDO SOBRE VIOLÊNCIA ESCOLAR


No meu livro ?A Dinâmica da Violência Escolar: conflito e ambigüidade? eu me refiro à ?violência institucional?. Esse tipo de violência se caracteriza pela desconsideração aos modos como são partilhados os espaços, o tempo e as relações de amizade entre alunos e, até mesmo, entre os professores e desses com pais, gestores e funcionários.
Por meio das pesquisas que tenho realizado, constato que, a partir da violência do poder institucional sobre as pessoas, ocorre outro tipo de violência, a violência das pessoas sobre esse poder. Reações como indisciplina, quebra-quebra, xingamentos podem não expressar apenas ódio, raiva, vingança, mas, também, uma forma de interromper as pretensões do controle homogeneizador imposto pela escola.
Não pensem que culpabilizo professores, diretores e todos que lá trabalham. A maioria das escolas não têm infra-estrutura para oferecer aos estudantes um trabalho pedagógico de qualidade, um apoio psicológico e psicopedagógico. Então, o que nós encontramos? Alguns professores desmotivados e outros lutando para ensinar nas condições em que a escola se encontra, sob o descaso das políticas públicas, com os salários baixos, muitos em contratação temporária, gerando alta rotatividade nas equipes de trabalho.
O que passa a acontecer? Quando a escola não tem significado para os alunos (e nem para parte dos professores), a mesma energia que leva ao envolvimento, ao interesse por aprender, pode transformar-se em apatia ou explodir em indisciplina e violência. Nenhum projeto de lei, nenhum decreto conseguirá unir alunos, professores e pais no combate à violência, se não houver uma disposição em romper com o isolamento entre as pessoas e em criar uma comunidade de trabalho.
Se entendermos que educar é aprender a gerir relações com o saber, isso implica na existência de uma tensão, pois, se, de um lado, o educador tem a função de estabelecer os limites da realidade, das obrigações e das normas, de outro, ele desencadeia novos dispositivos para que o aluno, ao se diferenciar dele, tenha autonomia sobre o seu próprio aprendizado e sobre sua própria vida, e isso não se faz sem conflito. Alunos e educadores seriam obrigados a formular regras comuns, limites de fechamento e de tolerância.
Portanto não adianta ?mapear?, ?fiscalizar?, ?treinar?, ?controlar? comportamentos. O papel da escola é preparar os alunos para conquistarem o ato de pensar, porém, para que isto ocorra, a escola deve existir em um espaço democrático, de modo a garantir o exercício da profissão de educador cuja autonomia lhe foi roubada por meio dos consecutivos saques feitos às instituições públicas do país. Concordo com os educadores que, em sua luta por melhores condições de trabalho, optam por priorizar o ensino e a aprendizagem ao invés de reivindicar o aumento dos aparatos de segurança nas escolas.
Com o advento da escola de massas, há outras regras em jogo e que nada têm a ver com as experiências que vivemos no passado. Existe, hoje, um conjunto de regras muito diversificadas que precisam ser conhecidas para que os educadores descubram os mundos de onde os alunos provêm. É preciso construir práticas organizacionais que levem em conta as características das crianças e jovens que hoje freqüentam as escolas. A organização do ano escolar, dos programas, das aulas, a arquitetura dos prédios e sua conservação não podem estar distantes do gosto e das necessidades dos alunos.
Como encontrarmos um equilíbrio entre os interesses dos alunos e as exigências da instituição, entre os conhecimentos universais que os alunos têm o direito de receber e os saberes já construídos por esses alunos? É preciso deixar de acreditar que a paz signifique ausência de todo conflito.
Empreendimentos que flexibilizem o tempo e o espaço do território escolar, que não excluam a possibilidade de dissidências e nem o debate sobre essas questões, podem dar início ao despontar de uma solidariedade interna que recuse o coletivismo. Isto é, que rejeite a imposição unitária de comandos e que engendre uma luta pelo coletivo, ou seja, uma atividade conjunta que possibilite a afirmação de outras maneiras de ser, de outras sensibilidades, de outras percepções, considerando todos os acontecimentos que são rejeitados simplesmente por estarem fora dos padrões institucionais.
Algumas pesquisas também têm demonstrado que se não entendermos a violência que permeia a nossa sociedade não conseguiremos compreender o modo pelo qual as instituições escolares se articulam com a violência presente na sociedade. Esse é um aspecto importante, pois significa que um novo projeto educativo deverá questionar a sociedade de consumo e sua indiferença para com as desigualdades sociais, a miséria do cotidiano e a nossa subserviência à lógica empresarial de mercado.
Também gostaria de dizer que apesar das escolas públicas estarem em condições adversas, muitas delas realizam, graças a esforços heróicos de seus diretores, professores, funcionários, experiências bastante significativas para a formação dos alunos. Mas, infelizmente, esses exemplos são pouco conhecidos e divulgados porque explicitam o abandono do Estado e a necessidade de atuações efetivas que articulem uma crítica à sociedade, aos seus valores, aos conteúdos curriculares expressos nos documentos oficiais e o projeto pedagógico construído por essas escolas de forma autônoma e democrática.
Áurea M. Guimarães



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