Sociologia
Não existe escapatória
Em sua famosa obra, Émile Durkheim, discute de que forma a consciência coletiva se sobrepõe à consciência individual. É observável que, principalmente, nas sociedades ocidentais, os indivíduos têm liberdade para se expressar, de ter suas próprias opiniões, frequentar diferentes espaços. E isso se mostra até na maneira como o indivíduo se veste, cada um tem seu estilo. Mas, em verdade, antes de decidir qual combinação de roupa reflete mais a própria personalidade, está a conscicência coletiva, ou seja, aquela que diz que você, independentemente da sua vontade, deve vestir-se. Comprovando que, de fato, a consciência coletiva impõe limites à conduta individual.
Nesse sentido, o autor também define a anomia. A qual, na análise do importante sociólogo brasileiro Gabriel Cohn, não significa, ausência de normas. Em verdade, existe, principalmente nas sociedades complexas, como esta em que nós vivemos, um conjunto pouco articulado de normas as quais são, muitas vezes, conflitantes. De forma que, o sujeito que está exposto às mesmas, encontra certa dificuldade em deliberar para que lado ir. O que ocorre sobretudo entre os jovens, cujos grupos de convivência estabelecem certas normas conflitantes com as da escola, por exemplo. Por isso que tal segmento, certamente, seria visto por Durkheim como o mais penalizado na sociedade contemporânea.
A partir disso, proponho a análise de trechos de duas obras distintas: o texto literário de Machado de Assis ?A teoria do Medalhão? e a letra de música da banda Legião Urbana ? Geração coca-cola?. As quais expõem dois tipos de comportamentos joviais divergentes: um enquadrado e manipulado e outro emancipador.
Quanto à primeira, é preciso que nos atentemos apenas ao diálogo estabelecido entre os entes. No qual o pai aconselha o filho de 21 anos a se tornar um medalhão: um homem que ao chegar a velhice teria a fama e o respeito da sociedade. Para tanto, deveria se adequar ao que essa sociedade burguesa, condicionadora do sucesso material ao empobrecimento da vida interior e das relações humanas, exige. E nisso disserta sobre a necessidade do filho se manter neutro, usar e abusar das palavras sem sentido, conhecer pouco, ter um vocabulário limitado, não questionar, entre outros. Afinal, na visão paterna, ?Isto é a vida; não há planger, nem imprecar, mas aceitar as coisas integralmente, com seus ônus e percalços, glórias e desdouros, e ir por diante?. Ou seja, um perfeito exemplo de adequação à consciência coletiva.
Na contramão, a ideia emancipadora, a perfeita inadequação às regras que promovem a integração social, e mais do que isso, a superação das mesmas: ?Desde pequenos nós comemos lixo Comercial e industrial/ Mas agora chegou nossa vez/ Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês (...) Vamos fazer nosso dever de casa/ E aí então vocês vão ver/ Suas crianças derrubando reis/ Fazer comédia no cinema com as suas leis?. Mostra que, as novas gerações não devem se submeter àquilo que é imposto, mas sim lutar contra ele, para que, assim, possam mudar a realidade em que vivem, já que esta só impõe padrões, o que consumir (?lixo?) ou vestir, e te pune com a exclusão se delas divergir.
Tal ideia, parece ser uma libertação do fato social, ou seja, uma outra alternativa. E, assim, pode-se pensar: os indivíduos não estão tão fadados assim a seguir as tendências que vêm de fora, pode haver uma ?revolução?. Mas aí, depara-se com o seguinte trecho da obra de Durkheim: ? se sou industrial, nada me proíbe de trabalhar utilizando processos e técnicas do século passado; mas, se o fizer, terei a ruína como resultado invitável. Mesmo quando posso realmente me libertar destas regras e violá-las com sucesso, vejo-me sempre obrigado a lutar contra elas. E quando são finalmente vencidas, fazem sentir seu poderio de maneira suficientemente coercitiva pela resistênciaque me opuseram. Nenhum inovador, por mais feliz, deixou de ver seus empreendimentos se chocarem contra oposições desse gênero?. E a angústia retorna, pois só nos basta sermos medalhaões.
Yasmin Commar Curia
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