Os japoneses definem cidadania como ?aquela sensação de arrepio que a gente sente quando escuta o hino nacional ou assiste ao hasteamento da bandeira?.
Esta sentença ouvi em 1963, no Japão. Desde então, fico pensando em quando o brasileiro atingirá tal grau de sublimação dos seus sentimentos em relação à sua pátria.
Infelizmente, vejo cada vez mais distante esse desejado momento, pois cada vez mais a nossa autoestima (refiro-me aos brasileiros conscientes e responsáveis) distancia-se em vez de aproximar-se.
Imaginando o Brasil como um piano de cauda, vejo com pesar o sacrificado povo brasileiro carregando esse instrumento enquanto uma minoria corporativada, e irresponsável e até desonesta, não só senta-se em cima, como ainda pula e dança sobre o piano e consequentemente sobre os que o carregam.
O que mais me entristece, para não dizer revolta, é a indiferença dos parasitas que roubam ou desperdiçam impunemente os cofres da nação e ainda por cima, quando detectados e pegos ?com a boca na botija?, provocam um agito nacional, orquestrando-se em uma estranha solidariedade causada pelo medo ou comprometimento, pois aparentemente nos escândalos denunciados todos têm o seu ?rabo preso?.
Eles se julgam e se absolvem ?dentro de seu próprio circo?, virando as costas para a sociedade perplexa e revoltada com os desatinos irresponsáveis que provocam.
Vejamos o nosso Senado, ator principal das atuais manchetes da nossa valorosa imprensa, que aliás eles procuram ridicularizar ou desmoralizar ao denominar trama midiática a revelação de suas safadezas.
Mais frustrante é que, passado o episódio efervescente, com o tempo baixa a fervura, amornam-se as reações e... esquecem-se os fatos, mas persistem suas razões, impunemente.
Pergunta-se e tem-se direito de perguntar: o que aconteceu com o escândalo das passagens aéreas... das horas extras indevidas e pagas... com o escândalo dos 181 diretores do Senado... os 10 mil funcionários, menos de 4 mil concursados e o restante terceirizado... os Renans Calheiros ...os Romeros Jucás... os Severinos... e o próprio presidente do Senado, que se assemelha a um robô e que aparentemente nada sente, mas tudo faz... manifestando-se com a maior ?cara de pau?, tão dura, que até causou uma revolta dos ?pica-paus? por sentirem-se impotentes de picá-la, tal a sua dureza, e tudo com ares comoventes de um anjo injustiçado.
Vejamos: ao registrar alguns fatos reais do nosso Congresso (imagine-se o quanto mais existe debaixo do tapete) e face à impunidade, concluo que é uma ingenuidade a ?sensação de arrepio? dos japoneses, a não ser quando o frio do nosso inverno apanha-nos desabrigados, causando-nos arrepios.
No Japão tradicional e ainda hoje, os ladrões públicos ou privados que ainda têm vergonha fazem o ?haraquiri?, enquanto no Brasil usufruem do dinheiro mal havido colocando-o nos paraísos fiscais ou esnobando os do ?andar de baixo? com sua impunidade e demonstração de riqueza... e ainda fazendo-o com soberba.
Mais ainda, precisamos remover as imundícies que estão debaixo dos tapetes das instituições públicas e privadas, federais, estaduais e municipais, punindo-as com a Justiça, sem brechas para o escape dos seus responsáveis. Somente então, poder-se-á tirar o ponto de interrogação do ?orgulho de ser brasileiro?.