E POR FALAR EM VIOLÊNCIA...
Sociologia

E POR FALAR EM VIOLÊNCIA...



Tenho acompanhado relatos de muitos professores da rede estadual de ensino que expressam total descrença pelo trabalho desenvolvido em sala de aula. Alunos que não respeitam ninguém, digladiam-se, atacam, depredam, roubam, não se esforçam por aprender. É para poucos que os professores mais idealistas tentam dar suas aulas.
Conversando com o Zé Pastre sobre essa situação, ele me disse que suas crônicas têm como inspiração os acontecimentos vivenciados por ele, por alguns alunos e colegas professores que trabalham em escolas públicas. Para ele, o modo como colocamos as questões é fundamental, pois nos abre possibilidades ou não de respostas. Por exemplo, se pergunto "como ser um bom profissional nestas condições?" é uma coisa; mas se pergunto "o que estamos fazendo aqui?" a questão é outra, a questão vai mais além!
Será que existe solução apenas "técnica" para os problemas que estamos vivendo? Ouvindo todas as queixas dos seus colegas, Zé Pastre entende que o que muda é a nossa relação com o que acontece. Ele sente que há uma tendência a viver o tempo como decadência: tudo no passado era melhor. Isto não é verdade. E, para aguçar nossa reflexão, Zé Pastre se reporta a Merleau-Ponty, para quem não há solução para os problemas humanos, nenhum meio de eliminar a transcendência do tempo, a separação das consciências, que podem sempre reaparecer e ameaçar nossos engajamentos, nenhum meio de verificar a autenticidade de nossos engajamentos, que podem sempre, em um momento de fadiga, nos aparecer como convenções fictícias. A existência é a decisão pela qual entramos no tempo para aí criar nossa vida. Entrar no tempo é ter uma disposição ativa para agenciar algo em torno daquilo que nos ameaça, que nos distancia das múltiplas possibilidades de atravessarmos programas e projetos por invenções e práticas não legitimadas pela gramática instituída.



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