RELATOS DE UM PROFESSOR ESGOTADO
Sociologia

RELATOS DE UM PROFESSOR ESGOTADO


Queridos(as) Leitores(as)
José Luiz Pastre é professor da Rede Estadual de Ensino, doutorando do Programa de Pós Graduação da Faculdade de Educação da Unicamp e pesquisador do grupo Violar. A partir de hoje, ele passará a escrever crônicas no meu blogue. Essas crônicas receberão o seguinte título ?Relatos de um professor esgotado?. Esses relatos abrigam um conjunto de memórias contadas por um personagem virtual, porém real, chamado Zenão. Trata-se de situações vividas enquanto trabalhava em escolas públicas e que, de algum modo, o impressionaram. Aqui, o esgotamento não tem nada a ver com cansaço. Tem mais a ver com busca, com procura...
Hoje, ele nos brinda com a Crônica I: Memória de um Drama.


Para cantar é preciso primeiro abrir a boca.
É preciso ter um par de pulmões e
um pouco de conhecimento de música.
Não é necessário ter harmônica ou violão.
O essencial é querer cantar.
Isto é, portanto, uma canção.
Eu estou cantando.

Henry Miller ? Trópico de Câncer


Crônica I: Memória de um drama: Foi uma manhã de uma terça-feira de novembro de 2005. Tinham acabado de sair da sala da direção. Zenão lembra-se vagamente das palavras de Clarice, aluna do 3c, enquanto subiam a escada, era algo como ?Professor não desista!?, querendo dizer ?Não fraqueje!?, ?Não se arrependa de ter nos apoiado!?. Já na sala, enquanto ele recolhia seu material de trabalho, pois havia dado o sinal para a troca de professores, Pagú entrou, sentou-se numa carteira, abaixou a cabeça, mas logo em seguida a levantou, com os olhos cheios de lágrimas! Ele se aproximou, seus olhares se cruzaram, e ela simplesmente lhe disse: ?Nós conseguimos!?. Ele, ainda atordoado pelos acontecimentos, fez que sim com a cabeça. Havia naquelas lágrimas, naquelas palavras, uma força e uma alegria. Aqueles alunos tinham acabado de ser ameaçados de serem expulsos da escola porque escreveram um jornal-panfleto em que expunham suas idéias, suas críticas, a respeito da escola. Zenão se lembra que enquanto eram ameaçados de serem expulsos, permaneciam impassivos diante da ?paranóia delirante?: ?Estão tentando derrubar a direção!??. Quando diante da diretora, perguntou se ela já havia lido o jornal, ela disse que não, mas aquelas baratas na capa... Além disso, eles mudaram o nome da escola de ?Oliveira? para ?Sujeira?, e ela se matando para manter a escola limpa para eles. Zenão tentou explicar que a barata era uma metáfora Kafkaniana (foi o que lhe veio na hora ? mais tarde descobriu que uma das alunas havia lido ?A metamorfose? de Kafka), mas não adiantou. Ela também chorou. Mas havia naquelas lágrimas medo. Tantos medos. O medo de ler o jornal. O medo das baratas. O medo do que os superiores poderiam pensar. O medo de ser ?derrubada?. Ela achava que havia alguns professores usando os alunos para derrubá-la. Na verdade, boa parte dos professores e funcionários pensavam a mesma coisa. Eles não acreditavam que aqueles textos tinham sido escritos por aqueles alunos. Havia ?alguém por trás?. Ou eles subestimavam o próprio trabalho, ou subestimavam os alunos, ou as duas coisas! Zenão não soube dizer! O fato é que talvez ?aquilo?, alunos de uma escola pública se expressando, pensando, eles não esperavam. Uma semana depois, quando Zenão disse para um colega professor que a aluna que escreveu o editorial havia passado num dos primeiros lugares do vestibular no curso de filosofia na USP, ele levou um susto e ficou mudo.
No final, os alunos não foram expulsos. Mas uma fenda foi aberta naquele dia... Se olharmos bem talvez a escola inteira esteja cheia de fendas... Como isto ainda funciona com todas estas rachaduras?








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