Sociologia
Violência Doméstica
Ao fazer uma pesquisa no google, encontrei esta banda desenhada que a meu ver demonstra o modo como a violência doméstica era encarada na família tradicional, onde a mulher aceitava ser submissa ao seu marido. Esta observação serviu-me de base para a reflexão que se segue.
Escondida no passado e visível na actualidade...
A violência no seio familiar sempre existiu, porém apresenta-se, hoje, como algo que é mais debatido e denunciado, o que faz com que a sua visibilidade aumente. Se outrora, na família tradicional, a violência doméstica se afigurava como algo incontestável, pelo facto de o sistema patriarcal conceber ao "chefe de família" o direito e poder absoluto sobre a sua mulher e os seus filhos, de modo a ser garantida a estabilidade doméstica, hoje as coisas são diferentes. A contemporaneidade colocou-nos perante uma desconstrução da família como um local isento de violência. A violência doméstica passou a ser vista como algo impensável e analisada como um grave problema social. Neste sentido, pode-se afirmar que a instituição família deixou de se revestir, apenas, por uma dimensão afectiva, passando a ter mais presente uma dimensão violenta. Para além de ser um espaço de expressividade e afectividade, a família pode ser um espaço de opressão e de violência sobre os seus membros, e este facto não pode ser ignorado.
Em Portugal, só a partir da década de oitenta é que a violência doméstica passou a ser encarada como um problema social. Nesta década, foram primeiramente denunciados os casos de violência sobre as crianças, por parte dos pediatras, e só depois os casos exercidos sobre as mulheres, por parte de determinadas Organizações Não Governamentais.
Hoje, estamos perante uma maior sensibilidade e intolerância social no que concerne aos comportamentos violentos; pediatras e profissionais de outras áreas contribuem juntos para tornar o assunto da violência doméstica público; e certas Organizações Não Governamentais, através dos seus meios de apoio e de intervenção, têm vindo a dar visibilidade à violência de que as mulheres são vítimas. Para além disto, é notório que o ditado popular "entre marido e mulher ninguém mete a colher" deixou de fazer sentido, uma vez que cresceram o número de denúncias realizadas por amigos e vizinhos das vítimas.
No nosso país estamos, cada vez mais, perante notícias que invadem o ecrã das nossas televisões e as páginas dos jornais, dando-nos conta de como a família, hoje, já não se constitui apenas num ?ninho? de amor e afectividade, mas também pode ser um espaço perigoso e violento. Dadas notícias fazem-nos compreender que são muitos os casos de violência doméstica em Portugal. Porém, quantificar ao certo dados casos, torna-se uma tarefa difícil de realizar, na medida em que os valores quase nunca correspondem à realidade, sendo que muitos dos casos acabam por não ser, ainda hoje, denunciados, o que nos remete para dados estatísticos insuficientes. Mesmo assim, as notícias avançam com 15 mortes por violência doméstica este ano, menos 33 que no ano anterior. É importante, para mim, realçar que destas 15 mortes as vítimas foram mulheres, o que demonstra que apesar de hoje existir alguns casos de violência doméstica sobre os homens, a tendência tradiconal mantém-se. A violência doméstica continua a ser socialmente perspectivada tendo como principais vítimas as mulheres e as crianças, sendo o homem visto como o principal agressor.
O menor número de mulheres vítimas de violência doméstica, anunciado pelos jornais, é explicado pela maior atenção dada por parte das autoridades aos casos de agressão na família, mas, a meu ver, também pode ser explicado pela menor vergonha social presente nas vítimas. Estas já não têm medo do modo como podem ser encaradas pela sociedade, preocupando-se sobretudo com a busca incessante da sua felicidade. São muito poucos os indivíduos que hoje, ao contrário do que acontecia antigamente, mantêm relações conjugais e familiares, ignorando a sua felicidade e o seu bem-estar, apenas como forma de manter as aparências.
Na minha opinião, é preciso que as autoridades, bem como as instituições sociais, continuem atentas para que os casos de violência na família continuem a diminuir, porém mais importante do que o colocar de uma pulseira que detecta os movimentos dos agressores, será o facto de serem as próprias vítimas a se mobilizar contra a violência doméstica que assombra o seu dia-a-dia. A decisão de colocar um ponto final na violência doméstica deve passar primeiramente por aqueles que dela são vítimas.
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