Sociologia

Violência Urbana

Medo e Violência: o lado da cidade contemporânea que se tenta esconder, mas que não deve ser esquecido?

A violência urbana é um problema que afecta a ordem pública e toda a sociedade, independente da classe social. Ela faz parte daquele que se constitui como o lado sombrio da cidade, que faz com que os indivíduos vivam o seu quotidiano perante o medo e falta de liberdade. Hoje, mais do que nunca, estamos perante uma banalização da violência nas cidades, sendo que esta se constitui num conceito complexo e amplo. Se outrora quando falávamos em violência vinha-nos logo à cabeça países como o Brasil, onde as cidades são pautadas por actos extremos de violência, hoje o mesmo já não acontece. Actualmente até um país como a Inglaterra é palco de violência urbana.

A cidade actual tem um lado encantatório marcado pelos estilos de vida, por um consumo exacerbado e pelas novas tecnologias. Mas não podemos esquecer que esta também se constitui numa cidade onde proliferam os casos de pobreza e desigualdade social, devido a um enfraquecimento do Estado, enquanto aparelho interventivo. No entanto, o que acontece é que apenas se tenta evidenciar o lado fantástico da cidade, escondendo o seu lado mais escuro.

A violência urbana surge no próprio interior da cidade, embora não seja produzida automaticamente pela mesma. Os factores inerentes ao despoletar da mesma são:

- relações sociais (económicas e de poder) desiguais e injustas;

- oportunidades de trabalho oferecidas (desemprego) ;

- contradições sociais e culturais emergentes nos seus espaços públicos e privados;

- densidade geográfica;

- má distribuição de renda.

Nos nossos dias, os factores supracitados são mais do que evidentes perante a crise económica e, consequentemente, social que vivenciamos. Num momento de crise onde o emprego diminui, o desemprego de longa duração aumenta, os benefícios sociais diminuem, os impostos aumentam e os rendimentos diminuem, a reivindicação por parte dos indivíduos tende a aumentar, podendo a mesma ser feita sob a forma de actos duros de violência; os tumultos na Inglaterra são um exemplo. Esta é já, a meu ver, uma forma extrema de reivindicação e de luta que ocorre quando uso dos meios pacíficos não acarreta os resultados pretendidos.

Em Portugal, apesar do registo de um aumento do número de assaltos violentos, os indivíduos ainda procuram agir por meios pacíficos de reivindicação. Só quando as greves e os protestos nas ruas, por exemplo, já não forem encarados pela sociedade como uma solução é que, provavelmente, se passará para uma reivindicação de cariz mais violento. Mas é necessário ter-se em conta que os tumultos sociais, como foi visível na Inglaterra, podem gerar ainda mais problemas sociais. Foram muitos os indivíduos que viram os seus negócios destruídos, bem como as suas habitações.

Para além de factores ligados a uma crise, como a que hoje vivenciamos, torna-se importante salientar que a cidade contemporânea estratifica e classifica. Esta sempre se organizou em partes e fez da acessibilidade a essas partes um forte critério de selecção e discriminação social. É deste facto que surgem os chamados ?excluídos?, aqueles que se afiguram como uma ameaça à cidade dos sonhos.

Na minha opinião, e defendendo aquilo que é dito por Amendola, mais do que organizada em torno da violência, a cidade contemporânea organiza-se em torno do medo da violência. Assim, o quotidiano citadino é organizado segundo modos de fechamento, sendo a classe social transformada num grupo de status.

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